quinta-feira, 4 de abril de 2019

a minha tiroidectomia: resumindo e concluindo

sou e sempre fui curiosa e quando algo acontece leio a internet até ao fim.
para algumas pessoas isto não é aconselhável, mas comigo funciona. a questão é que eu gosto de *saber tudo*. preparar-me para o pior cenário possível.
assim sendo, quero deixar o meu testemunho, apesar deste blog estar muito escondido e provavelmente ninguém aqui parar.. mas se és como eu e leste a internet até ao fim, aqui vai.

- Como detectei o meu tumor

Tenho bócio há 18 anos e faço análises frequentes às tióideias. A ecografia devia fazer anualmente (e assim o fiz), mas desleixei-me e não fazia uma há 3 anos. Na minha ignorância pensei que como as análises vinham normais, devia estar tudo bem (não é assim, e a maioria dos tumores malignos não alteram as T4 e as T3).
O meu nódulo só apareceu há 3 anos, com 11 mm e na ultima ecografia já estava com 48 mm. Só pelo tamanho é indicativo de cirurgia, para além de que cresceu muito rápido.
Fui fazer a ecografia porque, apesar de não ter sintomas (rouquidão,dificuldade em engolir), senti que o meu bócio tinha aumentado de volume.
A partir daqui passamos para a PAAF (Puncão Aspirativa de Agulha Fina), ou citologia para simplificar.
A primeira citologia deu "não diagnóstico" (Bethesda I), o que apenas significa que não retiraram amostra suficiente para análise. É algo comum este diagnóstico (cerca de 10%). Fiz a primeira citologia no Hospital Amadora Sintra, não doeu absolutamente nada. Não podemos mexer a cabeça, nem engolir, mas é rápido e indolor. Esta foi, pelo menos. Tive o resultado num mês (hospital público..)
Decidi fazer uma segunda citologia apesar de já ter a cirurgia marcada. O tumor tinha de sair, mesmo benigno, mas como sofro de problemas de infertilidade, ao ser maligno obrigava à toma de iodo radioactivo. E eu queria preservar a minha fertilidade antes se assim fosse.
A minha cirurgiã, endocrinologista e o meu médico de infertilidade estiveram envolvidos nesta decisão.
A cirurgia estava marcada no Hospital Lusíadas (tenho seguro de saúde) e desde a consulta até à cirurgia foram cerca de 3 semanas. Muito rápido mesmo.

A segunda citologia (Hospital Lusíadas) foi mais dolorosa. Picaram-me 3 vezes com receio de um novo não diagnóstico. Não vou mentir, desta vez doeu mesmo. Mas é rápido e não é insuportável. Não levamos qualquer anestesia.

4 dias depois tive o resultado: Indeterminado (classificação Bethesda III).

Só ia mesmo saber após a tiroidectomia.

De momento estou com 3 e meia semanas após cirurgia.

- A minha Tiroidectomia - Cirurgia e internamento

Preparação para a cirurgia é a normal: jejum de 8h, nada de especial. Com o trauma que vinha do ano passado com o catéter, fiquei muito ansiosa até o colocarem (e desta vez não custou nada!).
A cirurgia demorou 4h, acordei no recobro cheia de dores... nas costas! Acho que foi da posição durante a cirurgia e foi mesmo a única queixa que nem me deixou dormir.
Acordei a falar normalmente, sem rouquidão.
A cicatriz estava colada com cola cirúrgica o que nos deixa tomar banho. A minha incisão tinha cerca de 7 a 8 cm.

O internamento foi de apenas um dia, levei logo reforço de cálcio (os meus níveis antes da cirurgia já estavam baixos - não como lacticinios) e comecei a tomar o eutirox (a tiroxina que tenho de tomar o resto da vida) logo na manhã seguinte à cirurgia. Atenção que até mais ou menos um mês a hormona no sangue continua a ser a produzida pela nossa tiróide (que agora já não existe), por isso só se consegue ajustar a medicação (que depende do nosso peso, idade, e outros factores) após um mês (no meu caso vão ser 6 semanas). De momento continuo com 100 microgramas diários.

- Recuperação em casa e dias de baixa

Para perceberem como eu vinha bem do hospital, quando cheguei a casa no dia a seguir à cirurgia fui fazer o jantar!
Dormir até dormi de lado, que achei mais confortável por causa das dores nas costas. Tomei banho normalmente, tudo muito tranquilo.
Só tomei um brufen uma vez por causa das costas, não precisei de mais analgésicos.
Vim para casa com 30 dias de baixa, apesar de passados 15 dias já podia ter ido trabalhar. O meu problema é não conseguir dormir, mas não há nada nas minhas análises que justifique isto. Pensei que fosse ansiedade de não saber o resultado (tenho cancro ou não?), mas já sei o resultado e continuo sem dormir... spoiler alert: é "benigno".
Na primeira semana custava-me mexer o pescoço, a pele repuxava um bocadinho, mas também devia ser da cola, porque quando ma tiraram já mexia o pescoço muito bem.
Não podia conduzir por falta de mobilidade do pescoço, mas passado uma semana já conseguia conduzir e fazer a minha vida normal.
Pus dermatix 2 a 3x ao dia na cicatriz após a remoção da cola e já nem usava lenço porque a cicatriz mal se nota! Isto uma semana depois! Agora então parece uma preguinha no pescoço.
Tomei cálcio 3x ao dia estas 3 semanas e agora passei para 1x por dia. O cálcio já está normal, mas as minhas paratormonas estão muito baixas e a endocrinologista quer continuar com o cálcio até vermos se é temporário ou não (as paratiróides regulam o cálcio no organismo e por estarem muito perto da tiróide costumam ficar desreguladas - em princípio será temporário).
Fiz análises esta semana e só as paratormonas vinham desreguladas. Mas a médica avisou-me que ainda é cedo para ajustar a medicação, tal como vos disse anteriormente.

- O resultado

Recebo o resultado ontem na consulta.
NIFT - Non- invasive follicular tumor.
Estava lá escrito carcinoma papilar no papel, o que me assustou e nem ouvia a médica, mas ela explicou que desde 2016 este diagnóstico (IV na tabela Bethesda) é considerado benigno. Ou seja, há células malignas, mas estão encapsuladas por tecido não doente, não espalhou para lado nenhum, por isso o risco de haver metástases é muito reduzido, evitando tratamentos necessários. Com a tiroidectomia fiquei curada. Estou bem, posso voltar a tentar engravidar, vida normal como antigamente, tirando o comprimidinho diário.


A minha história é esta, mesmo que fosse maligno, o tratamento não é complicado. O prognóstico do cancro da tiróide é mesmo muito bom.
Por isso se quem está a ler isto tiver tido este diagnóstico, não se assuste, vai correr tudo bem.
E se quem está a ler isto está com medo da cirurgia, também não custa nada e a recuperação é óptima.
Se quem está a ler isto tem problemas de fertilidade ou deseja muito ser mãe, eu fiz a cirurgia dia 11 de Março e já posso voltar a tentar, estava cheia de medo que fossem mais meses (que eu não tenho).
Com o ajuste da medicação não há problemas nenhuns. A endocrinologista disse que os meus ciclos vão ser exactamente iguais aos que eram (depois confirmo-vos se de facto aconteceu).

Vai correr tudo bem!
Comigo correu :)



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

rinse, repeat

este ano parece uma cópia do ano passado.

(a citologia veio inconclusiva, tive de a repetir e desta vez picaram 3 vezes, e doeu tanto!)

as médicas dizem que (a ser benigno), são mais ou menos dois meses até estar tudo normal. espero que sim, isso animou-me bastante. marquei consulta para 30 de Abril para uma (outra) especialista de infertilidade porque me apetece ouvir coisas diferentes. o meu médico é o melhor, mas não tenho empatia nenhuma com ele... e quero fazer um restart.

(o meu sogro fez radioterapia, não fez efeito, tem o cancro espalhado para algures, mas ainda não sabem para onde).

já consigo dormir. mas dou por mim às vezes a chorar sozinha. estou triste, mas basicamente estou muito cansada.

(o gigante foi operado ao cérebro - metástase, andámos todos com o coração apertadinho, mas correu bem e ele até esta nimado e já retomou os tratamentos)

vai correr tudo bem.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

más notícias

ontem lá fui à endocrinologista, com a leve esperança que talvez viesse com boas notícias (a esperança fode tudo, não é?).

a tiróide vai ter de sair, e vai ter de sair já, mal saiba o resultado da citologia. a questão é se levo com radioterapia/iodo radioactivo ou não.
com isto volto à pilula quando iniciar o próximo ciclo, e sei lá quando posso tentar novamente.
e iniciamos o ano com o projecto da nossa nova casa, uma casa tão grande, e não sei quando iremos ser três em vez de dois. e tento ser positiva e levar tudo isto com calma, mas confesso que já me está a afectar muito. e não consigo dormir outra vez, e quando eu não consigo dormir começo naquela espiral que me assusta muito.

inspira. expira, respira.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

olá 2019

já vamos no dia #2 e ainda não decidi as resoluções.
relaxar?  parar de querer controlar tudo? go with the flow?

venha o que vier...
please 2019, be kind..

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

a coragem de não desistir

por coincidência, a revista tribo na minha sectretária. página 63.

" Nunca me permiti perguntar "porquê a mim?". Acho que a vida é muito mais do que viver a responder a questões, com respostas que em nada nos ajudam a chegar ao resultado que queremos."

Carolina Vasconcelos.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

(quase) 4 anos depois.

Este ano de 2018 não foi nada fácil.
Mas eu até nem me podia queixar, que desde o meu silêncio até ao final de 2017 as coisas andaram tranquilas, serenas. A única coisa com que me podia queixar era com o excesso de trabalho (ai, as prioridades..!).
E claro que o Universo não dorme, e de repente abri a porta e tinha uma tonelada de limões. Foi-me assim diagnosticada, em Dezembro de 2017, infertilidade.

Entrei neste ano com dores horríveis. Acho que de certa forma foi uma maneira poética, agoirenta, do que vinha aí.
Depois das dores, uma cirurgia marcada. Uma irmã a confirmar as supeitas de ter herdado a doença da nossa família, uma sobrinha angustiada. Estou sempre a cuidar de alguém (e quem cuida de mim?). E seguir em frente, porque já estou habituada a estar em segundo plano sempre.
A cirurgia foi um sucesso e consegui engravidar! Como foi possível? Não me esqueço daquele dia. Daquele momento. Os dois riscos no teste de gravidez, o ir confirmar e ouvir o coração a bater.. afinal estava já de 5 semanas! Estava grávida e não sabia!

Claro que não correu bem.
nem da segunda vez.

Claro.

Eu hei-de falar sobre isso, mas não agora.

Agora preciso de colocar aqui em palavras a confusão que vai na minha cabeça.
Que preciso de mudar de postura, preciso de fazer as pazes com o facto de poder nunca acontecer. preciso de o fazer para não enlouquecer, ciclo a ciclo, dia a dia, testes de ovulação, testes de gravidez, primeiro um, depois dois, depois dez. Google, pesquisar, analisar, compreender, saber tudo à exaustão. Viver, respirar para cada ciclo. Chorar quando a menstruação vem. É doentio.

Depois penso. Se não tivessem sido as gravidezes, não saberia do tumor que encontraram na minha tiróide.
Será que tudo tinha uma razão de ser?
Será que há uma poesia em tudo isto?

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

dói

dói muito lembrar. agora que tudo está esquecido, dói muito lembrar. tudo.